Bandeira do Brasil: Bolsonaro hoje

Pensar a vida é também pensar-se a si mesmo e refletir sobre a sociedade, considerando suas belezas, feridas e necessidades.

O ser humano é um animal racional, diria Aristóteles, nessa que talvez seja uma das definições mais famosas da Filosofia.

Com isso, o filósofo grego da antiguidade afirmava que a alma humana – algo que para ele seria como o princípio da vida – é fundamentalmente racional.

No entanto, não faltam provas da irracionalidade humana. Os atos vistos em várias cidades brasileiras nessa terça-feira, 7 de setembro, são exemplo disso.

Embora, felizmente, não tenhamos visto grandes cenas de violência, os atos não foram menos irracionais por isso.

De fato, já que falamos de razão, quais seriam as razões, isto é, as justificativas que os apoiadores do presidente Bolsonaro poderiam enumerar para ir às ruas defendê-lo?

As manifestações populares geralmente têm pautas estruturadas, se não, são apenas um agrupamento de pessoas – mesmo que numeroso – que gritam irracionalmente.

O que chama a atenção nesse momento é o fato de que as vozes que se elevaram não reivindicavam aquilo que se espera ser bom para a população. Pelo contrário, o que escutamos foram gritos que pediam “intervenção” e fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Quando faltam argumentos sobram ameaças, isso foi demonstrado por Bolsonaro hoje

Na manhã do anormal 7 de setembro, em Brasília, Bolsonaro, referindo-se ao ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, disse que um “ministro específico do STF perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal. Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica continue paralisando a nossa nação“.

Contudo, o que vemos durante os 32 meses de Bolsonaro à frente do governo é que essa “pessoa específica que paralisa a nação” é ele mesmo.

Continuamente o presidente ameaça “jogar fora das quatro linhas da Constituição”. Não vê quem não quer! A questão é que o ex-capitão já tomou várias atitudes contrárias à Constituição, e, mais que isso, seu governo vive fora das linhas da razão.

Pela tarde, reunido com uma multidão em São Paulo, Bolsonaro disse que não cumprirá mais decisões de Alexandre de Moraes e, mesmo sem ser juiz, sentenciou: “não serei preso”.

O grande problema no “modo Bolsonaro de governar” é que o presidente nunca responde às questões reais que lhe são apresentadas. Ele criou um mundo paralelo onde ele é a Chapeuzinho Vermelho (nesse caso Chapeuzinho verde-amarelo) e quem não lhe é submisso é por ele apresentado como um Lobo Mau.

Sua retórica baseia-se unicamente na histérica narrativa de que o Brasil corre riscos de uma ameaça comunista, de eleições fraudadas, de uma ditadura de toga e de ataques à liberdade.

Todavia, o excelentíssimo jamais saiu da retórica para provar suas acusações com elementos tangíveis, e o único que faz é “atiçar” seus apoiadores mais radicais contra as demais instituições da República, que por ele não foram cooptadas. 

O confronto é o modo bolsonarista de governar

A política se faz pela apresentação, aceitação e refutação de argumentos, amparados na realidade e construídos nos marcos da razão. Porém, quando só um fala – ou grita, como é o caso – estamos diante de uma clara tentativa de sobrepor-se às vozes divergentes.

Na verdade, temos um presidente cujo vocabulário é tão curto e as ofensas são extremamente grandes. Numa democracia isso é inadmissível.

A democracia pode ter seus defeitos, mas fora dela tudo é barbárie, disse muito bem a vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes, em uma palestra dirigida a estudantes de uma universidade há alguns dias.

Desde que assumiu o posto, Bolsonaro pautou toda sua atuação em uma política de confronto, de ataques e tentativas constantes de transferir responsabilidades. E o que vemos? Os problemas reais são deixados de lado.

Onde está o governo Bolsonaro hoje?

São quase 15 milhões de desempregados, a inflação nas alturas, o gás de cozinha custando mais de R$100 em muitos lugares, a gasolina aproximando-se dos R$7, e aquele que, com certeza, é o mais triste número do governo: 585 mil mortos pela Covid.

Apesar de tudo isso, na retórica palaciana tudo é culpa de outras instâncias governamentais: ou dos governadores, ou do STF que, segundo o presidente, não lhe deixou atuar no enfrentamento da pandemia.

Por outro lado, vemos como nunca o aumento das invasões de grileiros às terras indígenas e a violência contra nossos povos originários. Os pobres, a população negra, as mulheres e a comunidade LGBTQI+ também continuam sofrendo.

Também aumenta rapidamente a fome de grande parte da população e o número de moradores em situação de rua.

Além disso, as políticas ambientais do governo põem em risco o futuro do país.

Nesse governo, só são favorecidos empresários (sendo que alguns já começaram a criticar o governo pela extrema instabilidade institucional); garimpeiros ilegais; grileiros de terra; os grandes nomes do agronegócio; políticos do centrão (velha política que Bolsonaro certa vez disse haver acabado); e, claro, seus filhos e demais familiares e amigos.

E a corrupção?

Não esqueçamos, ainda, a principal bandeira usada nas últimas eleições: o movimento anti-corrupção. Defensores de Bolsonaro insistem em afirmar que “pelo menos não há escândalos de corrupção neste governo”.

No entanto, simplesmente ignoram as denúncias das rachadinhas, que envolvem toda a família presidencial, e as interferências nas instituições; entre elas, a questionável atuação do Procurador Geral da República, Augusto Aras.

Sem contar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que como bom representante do “centrão” tenta agradar a gregos e troianos, ou nesse caso, a defensores da democracia e o pessoal simpatizante de ditaduras.

Ou seja, estamos diante de um governo que sequestra as instituições a seu favor, tudo no estilo Nicolás Maduro, embora Bolsonaro grite uma e outra vez que o Brasil não se converterá em uma Venezuela.

E amanhã?

Fica o temor diante das ameaças à democracia feitas nesse dia, sobretudo pela menção ao chamado “Estado de Defesa”.

Mas, de todas as formas, amanhã será 8 de setembro, a multidão não estará nas ruas. Com o fim do feriado prolongado, os brasileiros devem voltar ao trabalho, menos os 15 milhões de desempregados.

Bolsonaro também não deve trabalhar, afinal, nunca trabalhou nos seus mais de 30 anos de vida política, pelo menos nos faltam indícios disso. O que ainda não sabemos é quando a razão de milhares de brasileiros e brasileiras voltará ao trabalho.

Para concluir, é importante dizer que, ao contrário do que alguns possam pensar, o autor deste artigo não se considera dono da razão, mas sabe bem que quando essa falta, sobram os berros.

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