A ciência nos nossos dias pauta sua atuação em princípios como a busca da objetividade e, a partir disso, defende uma postura imparcial. Contudo, podemos pensar sobre como os valores humanos podem relacionar-se com a busca do conhecimento científico.
Mariano Artigas Mayayo foi um físico, filósofo, professor e sacerdote católico nascido na Espanha. Entre suas obras destacam aquelas sobre a Filosofia da Ciência e os escritos em que propõe o diálogo da fé com a ciência.
Em Filosofía de la ciencia, cuja primeira edição foi publicada em 1999, o sacerdote escreve, entre outras coisas, sobre a relação da ética com o conhecimento científico e sustenta que não é possível fazer ciência deixando de lado os valores humanos.
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Duplo objetivo da ciência
Mariano destaca dois objetivos do saber científico, um teórico e outro prático. Com isso, o autor defende a existência de valores relacionados diretamente com o saber científico.
Objetivo teórico
Segundo Mariano, o objetivo teórico da ciência – que corresponde à busca pelo conhecimento da natureza – “está relacionado com a busca da verdade e requer uma atitude de objetividade“.
Objetivo prático
Por outro lado, o objetivo prático tem a ver com o domínio controlado da natureza, e “está relacionado à conquista de meios que possibilitem uma vida mais humana, ou seja, [está] ao serviço da humanidade“.
Dimensões éticas da ciência
A marca da ciência experimental é a objetividade e, portanto, preza pela independência de fatores subjetivos e pessoais. A objetividade parece estar ligada a uma perspectiva analítica, que deixa de lado as avaliações pessoais.
Para Mariano, “a objetividade científica é um valor ético porque representa uma forma concreta de busca da verdade, e a busca da verdade é um valor ético fundamental na vida humana“.
Contudo, há quem refute tal princípio que sustenta uma total objetividade. Sabemos que tal imparcialidade será também criticada por outros autores, e mesmo considerada inexistente.
Por outro lado, Mariano argumenta que, considerando seus aspectos pragmáticos, a ciência estaria isenta de valores, uma vez que o trabalho investigativo pode ser realizado independentemente das próprias ideias filosóficas e religiosas. Porém, a ciência busca o conhecimento da natureza, e isso tem um sentido ético: relacionado com o duplo objetivo apresentado antes.
Em resumo, para o sacerdote, físico e filósofo espanhol, “a ciência é livre de valores no sentido de que possui uma autonomia que deve ser respeitada; mas a própria existência dessa obrigação indica que a ciência comporta alguns valores éticos, por isso é digna de respeito”.
Isto é, mesmo que considerada livre de valores porque se restringe a recolher evidências de suas investigações sobre a natureza, alguns de seus métodos e resultados podem ter implicações em nossa visão de mundo e, portanto, ter um impacto em nossos valores.
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